População inteira da Faixa de Gaza enfrenta ‘risco crítico’ de fome, diz relatório 1s865
Catástrofe se alastra em meio ao bloqueio de Israel ao enclave palestino e 1,95 milhão de pessoas vivem 'insegurança alimentar aguda' 3m1i15

A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou nesta segunda-feira, 12, um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
A catástrofe se alastra em meio ao bloqueio israelense ao enclave, impedindo a entrada da necessária ajuda humanitária, imposto em março após o fim do cessar-fogo com o grupo terrorista palestino Hamas.
O documento indicou que a trégua, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”.
A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.
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Nesse contexto, estima-se que quase 71 mil crianças menores de cinco anos sofrerão de desnutrição aguda nos próximos 11 meses, até abril de 2026. O relatório também salientou que “muitas famílias estão recorrendo a medidas extremas para encontrar comida, incluindo mendicância e coleta de lixo para vender e comprar algo para comer” e que o panorama atual representa “uma grande deterioração em uma das crises alimentares e nutricionais mais graves do mundo, impulsionada por conflitos e caracterizada por sofrimento humano incalculável”.
Israel nega a crise de fome em Gaza pela quantidade de ajuda que entrou no enclave ao longo do cessar-fogo. Em contrapartida, o levantamento disse que os planos de distribuição de ajuda são “altamente insuficientes” e que acredita-se que muitos palestinos “enfrentassem problemas significativos para ar os locais de distribuição propostos”. O IPC é o principal mecanismo usado para concluir se há fome em determinado ponto do planeta.
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Uma onda de saques, roubos e trocas de tiros toma conta da Faixa de Gaza devido à fome, informou o jornal britânico The Guardian na semana ada. Homens armados atacam armazéns humanitários, estoques, cozinhas e lojas à procura de alimentos. A Cidade de Gaza, no centro do território, enfrenta o pior panorama de crimes.
“Quando a fome for declarada, será tarde demais. A onda de crimes se deve ao fato de haver 2 milhões ou mais de pessoas desesperadas e traumatizadas, amontoadas e praticamente sem policiamento”, disse um funcionário humanitário em Gaza ao Guardian.
O bloqueio israelense também impede que o sistema de saúde palestino, que já estava em colapso, atenda os milhares de doentes e feridos. No sábado 3, a bebê Jenan Alskafi morreu por desnutrição e problemas digestivos. A menina de quatro meses precisava de fórmula láctea hipoalergênica, em falta, para ajudá-la com diarreia crônica, disse seu médico Ragheb Warsh Agha do hospital Rantissi, no norte de Gaza.
“A situação está piorando a cada dia. Temos entre 9 mil e 10 mil crianças em tratamento para desnutrição”, disse Jonathan Crickx, chefe de comunicações da Unicef, agência das Nações Unidas para a infância.
A fome é considerada um crime de guerra pelas Convenções de Genebra, pelo Estatuto de Roma e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em Gaza, 95% das famílias reduziram a quantidade e a frequência das refeições – parte das crianças pequenas, inclusive, está parando de receber alimentos. A desnutrição suprime o sistema imunológico e, como consequência, aumenta a suscetibilidade a doenças, além de prejudicar o desenvolvimento cognitivo e físico das crianças.