Risco no ar: dólar dispara e estraga a festa da Bolsa
A moeda volta a se aproximar de R$ 5,70, pressionado por novos ruídos fiscais, após ter tocado o menor nível em sete meses no início da semana

O Ibovespa se encaminha para encerrar a semana em movimento de correção, recuando aos 137,9 mil pontos nesta sexta-feira, 16, após renovar sua máxima histórica na véspera. O mercado acionário brasileiro, que vinha surfando o otimismo externo, tropeça no ruído fiscal doméstico, enquanto o dólar volta a se aproximar do patamar de R$ 5,70 — após ter tocado R$ 5,60 na segunda-feira, o menor nível em sete meses.
No pano de fundo global, o apetite ao risco foi estimulado por uma combinação de dados benignos nos Estados Unidos e sinais de distensão geopolítica. A inflação ao produtor (PPI) de abril desacelerou, fortalecendo a expectativa do mercado de que o Federal Reserve poderá flexibilizar a política monetária. O presidente americano Donald Trump sinalizou, em declarações recentes, disposição para renegociar acordos comerciais com a China e o Reino Unido, o que ajudou a suavizar a aversão ao risco que vinha se acumulando com as tensões sino-americanas. Para investidores globais, a perspectiva de um cenário externo menos hostil abriu espaço para valorização de ativos brasileiros.
Contudo, o cenário doméstico voltou a capturar os holofotes na reta final da semana, com os investidores reavaliando o risco fiscal diante de especulações sobre medidas eleitoreiras. Circulam rumores sobre a possibilidade de o governo aumentar o valor do Bolsa Família de R$ 600 para R$ 700 em 2026 — ano eleitoral. A sinalização de uma possível ampliação de gastos reavivou temores sobre a sustentabilidade das contas públicas, já pressionadas por uma meta fiscal ambiciosa e receitas que vêm decepcionando. “Incertezas internas, como o ritmo lento das reformas e dúvidas fiscais, reforçam a fuga de capital estrangeiro. Para quem investe em inovação e internacionalização, esse movimento impacta desde o custo de importação até a estratégia de captação. O dólar forte é um sinal claro de que o investidor está mais seletivo, e o Brasil precisa oferecer segurança para voltar a ser destino de capital produtivo”, avalia João Kepler, CEO da Equity Group.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tratou de negar os rumores e reafirmou o compromisso do governo com o arcabouço fiscal, afastando a ideia de que esteja em gestação um novo “pacote” de estímulo. Ainda assim, o mal-estar ficou.
O resultado é um mercado em como duplo: o exterior ainda oferece impulso, mas o risco doméstico limita o fôlego. No câmbio, o dólar reflete essa dicotomia: a entrada de fluxo estrangeiro nos últimos dias — favorecida pela expectativa de corte de juros lá fora — ajudou a derrubar a moeda americana, mas a cautela com o Brasil reverte parte desse movimento.