Índice de confiança do consumidor dos EUA sobe para 98 pontos em maio
O índice registrou uma alta de 12,3 pontos em relação a abril - e, o mais surpreendente, superando as previsões do mercado pela primeira vez em cinco meses

Por cinco meses consecutivos, o humor do consumidor americano parecia mergulhado em uma névoa de pessimismo. Mas em maio, um raio de otimismo penetrou os dados econômicos. O índice de confiança do consumidor do Conference Board saltou para 98 pontos, uma alta de 12,3 pontos em relação a abril – e, o mais surpreendente, superando as previsões do mercado pela primeira vez desde o fim de 2024.
Essa guinada, ainda que modesta, sugere mais do que um simples suspiro de alívio. Ela reflete uma reconfiguração no estado de espírito coletivo, alimentada por múltiplas forças: uma trégua tarifária inesperada entre Estados Unidos e China, a desaceleração da inflação percebida e uma leve melhora nas perspectivas de renda. A melhora foi disseminada entre diferentes faixas etárias, de renda e até mesmo filiações partidárias, com republicanos se mostrando mais confiantes após o anúncio da suspensão parcial de tarifas sobre importações chinesas, feito em 12 de maio. Quase metade dos entrevistados respondeu à pesquisa após essa data, sugerindo que a política comercial segue sendo um vetor sensível para o sentimento econômico.
Essa virada de sentimento, no entanto, está longe de significar uma recuperação plena. O subíndice de expectativas, que capta as projeções dos consumidores para renda, negócios e mercado de trabalho nos próximos seis meses, avançou de 55,4 para 72,8. A alta, no entanto, ainda está aquém da linha dos 80 pontos, que historicamente separa otimismo de sinais preocupantes de recessão.
É tentador interpretar o alívio como uma luz verde para o consumo. Afinal, os planos de compra de carros e imóveis voltaram a crescer, e os americanos indicam disposição maior para gastar com viagens, restaurantes e entretenimento. A perspectiva de verão com gasolina mais barata também impulsiona essa nova disposição ao gasto. Mas a realidade é mais complexa. A avaliação sobre a situação atual do mercado de trabalho, embora em patamar elevado (135,9), mostra um sentimento de desconfiança com a economia. “Embora os consumidores estivessem mais otimistas em relação às condições de negócios atuais do que no mês ado, sua avaliação da disponibilidade de empregos atual enfraqueceu pelo quinto mês consecutivo”, alerta Stephanie Guichard, economista sênior do Conference Board.
Além disso, a inflação segue sendo um fantasma incômodo. As expectativas para os próximos 12 meses caíram de 7% para 6,5%. Ainda assim, a cifra está bem acima da meta de 2% do Federal Reserve (banco central americano, Fed). Esse descomo impõe dilemas para a autoridade monetária. Manter os juros altos por tempo demais pode conter o consumo e travar a recuperação. Cortá-los cedo demais pode reavivar as pressões inflacionárias.
O Fed tem reiterado que decisões futuras dependerão da trajetória dos dados. O alívio no sentimento do consumidor é positivo, mas insuficiente para alterar a política monetária por si só. O banco seguirá cauteloso — e os consumidores, embora menos pessimistas, continuam longe da euforia.