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Eletrobras lucra, dribla ingerência e mira a transição energética

Privatizada em 2022, a empresa amplia o lucro — e acomoda representantes do governo

Por Anna França
25 abr 2025, 06h00

Eletrobras, a maior empresa de geração e transmissão de energia elétrica da América Latina, provou em apenas dois anos que, livre de ingerência política direta e com foco em eficiência, é capaz de obter bons resultados sem prejuízo para a prestação dos serviços. Desde que foi privatizada, em 2022, por iniciativa do Congresso Nacional no governo Jair Bolsonaro, a companhia arrumou a casa e anunciou um crescimento robusto de 136% no lucro líquido em 2024, alcançando quase 10,4 bilhões de reais. Diante de um resultado tão consistente, a companhia decidiu fazer a maior distribuição de dividendos aos acionistas de sua história: 4 bilhões de reais, a serem entregues a partir de maio deste ano. “O lucro registrado já é reflexo de medidas como redução de pessoal, venda de ativos e perspectiva de pagamento de dividendos. Agora é observar a velocidade dessas medidas, mas a tendência é positiva, apesar de o preço da ação ainda não refletir isso totalmente”, diz Vitor Sousa, analista da corretora Genial Investimentos.

Lula e Mantega em 2007: vaga em conselho de istração da companhia
Lula e Mantega em 2007: vaga em conselho de istração da companhia (Evaristo Sa/AFP)

Os bons números no balanço da companhia, porém, convivem com turbulências políticas. Isso porque o governo Lula, que nunca engoliu a desestatização em um setor que considera estratégico, ou os últimos dois anos pressionando para aumentar sua ingerência na empresa, por meio de um aumento no poder de voto no conselho de istração. Depois de meses de uma disputa no Supremo Tribunal Federal (STF), a Eletrobras e o governo chegaram a um acordo para aumentar de uma para três, de um total de dez, as vagas no conselho reservadas à União — que continuará tendo apenas o peso de 10% nas decisões, apesar de possuir 45% do capital social da empresa. Em troca, foram redefinidas as responsabilidades da Eletrobras com a estatal Eletronuclear, reduzindo sua obrigação de investir na construção da usina nuclear de Angra 3. “O acordo veio em um momento importante, porque antes o setor era todo regulado, as tarifas determinadas e os preços definidos por acordos de reajustes. Agora, num ambiente livre, há mais competição para vender energia”, diz Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Por fim, a Eletrobras se livrou de dois grandes pesos, Angra 3 e as usinas que mantinha na Região Norte do Brasil, que foram vendidas para o grupo J&F no ano ado.”

Como consequência do acordo, Lula indicou o economista Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, para compor o conselho fiscal da Eletrobras. Para o conselho de istração, apresentou os nomes de Nelson Hubner, ex-diretor-geral da Aneel, Mauricio Tolmasquim, diretor-executivo de transição energética da Petrobras, e Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia. A validação do acordo com a União e a confirmação desses nomes ainda dependem de assembleia dos acionistas, agendada para 29 de abril. A escolha de Mantega ocorre após diversas tentativas frustradas do governo de colo­cá-lo em outros cargos, como a presidência da Vale, proposta barrada pelos acionistas da companhia. A função na Eletrobras é vista como uma escala no rumo da reabilitação pública de Mantega, que recentemente livrou-se de pendências na Justiça e pode acabar ganhando um cargo no Executivo.

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O fim do ime com o governo Lula, somado à valorização da energia no longo prazo, traz confiança sobre a Eletrobras no mercado. O risco de reestatização ficou para trás. Para Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Eletrobras ou por um processo de reorganização completo, operando com uma lógica de produtividade. Ele avalia que a privatização funcionou porque há regulação e fiscalização eficaz, e o rastreamento eletrônico permite checar o desempenho da rede, garantindo que, apesar da busca do lucro, os padrões do serviço fiquem dentro do exigido. Diz Castro: “Com escala, capilaridade e conhecimento técnico, a Eletrobras está pronta para liderar a transição energética, avançando em novas tecnologias como hidrogênio verde e usinas hidrelétricas reversíveis. Sem amarras para crescer”.

Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13

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