‘Cautela’, ‘flexibilidade’, ‘elevada incerteza’: o que dizem os analistas sobre o futuro da Selic
Banco Central elevou os juros para 14,75% nesta quarta-feira, mas, pela primeira vez no ano, não sinalizou se deve continuar com os aumentos depois

A alta de 0,5 ponto percentual na taxa Selic anunciada no início da noite desta quarta-feira, 7, pelo Banco Central já era amplamente esperada por investidores, economistas e outros analistas de bancos e consultorias, e confirma uma desaceleração no ritmo de aumentos dos juros rumo a uma possível pausa em breve. O Comitê de Política Monetária do BC decidiu elevar a Selic de 14,25% para 14,75%, depois de três aumentos seguidos de 1 ponto percentual, bem mais agressivos, nas reuniões realizadas pelo colegiado desde dezembro do ano ado.
Diferentemente dos encontros anteriores, também, os diretores do BC não deixaram indicados, desta vez, novos aumentos ou qualquer outro movimento previamente estabelecido para a decisão de juros nos próximos encontros. De acordo com as primeiras impressões divulgadas por analistas logo após a divulgação, trata-se de um parada técnica que vai ao encontro do cenário de incertezas bem mais elevadas em o que o Brasil e o mundo se encontram agora. O comitê não descartou novas altas, mas, desta vez, não quis assumir o compromisso com novas elevações.
“A medida reflete um cenário de elevada incerteza, tanto no cenário externo — com destaque para as políticas comerciais dos Estados Unidos — quanto no doméstico, especialmente em relação aos rumos da política fiscal”, afirmou, em nota, o sócio e gestor de patrimônio da Portofino Multi Family Office, Thomas Gibertoni. “Diante desse contexto, o Copom adotou um tom cauteloso, optando por aguardar os efeitos cumulativos do atual ciclo de alta de juros, a divulgação de novos indicadores econômicos e os desdobramentos das medidas comerciais internacionais antes de definir os próximos os.” Por essa necessidade de aguardar que as tendências fiquem mais claras, Gibertone julga que, na próxima reunião, em junho, o Copom deve manter os juros parados, para voltar a mexer neles, se necessário, em julho ou depois.
“Avaliamos como coerente a decisão de manter a política monetária em território significativamente contracionista”, diz a economista-chefe do Piay, Ariane Benedito. “O comunicado foi claro ao afirmar que o atual estágio do ciclo de aperto requer cautela adicional, flexibilidade e vigilância. Esperamos que o Banco Central continue calibrando sua atuação de forma a preservar a credibilidade do regime de metas e ancorar as expectativas, com mais um ajuste de 0,25 pontos na reunião de junho.
No comunicado divulgado junto ao anúncio do aumento na Selic, o Copom afirmou que, “para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de
ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na
atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica
de inflação”. O documento é tradicionalmente assinado pelo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, e os oito diretores que compõem com ele a cúpula executiva do Banco Central.
Em uma nota a clientes, a gestora de patrimônio G5 Partners destacou o fato de o Copom, agora, deixar a próxima decisão em aberto depois de quatro comunicados antecessores em que, em todos, já deixou sinalizado um aumento de juros no próximo. Isso, de acordo com a casa, deve tornar mais difícil o consenso de analistas com relação ao que deve e o que deveria ser feito com a taxa Selic daqui em diante.
“Depois de quatro reuniões, teremos, na de junho, um mercado ‘livre para especular’ qual vai ser o resultado”, diz o relatório. “E, como essa especulação vai depender da interpretação do comunicado, dificilmente teremos uma convergência de opiniões sobre o que o BC fará na próxima reunião. Entretanto, já há sinais de que possa haver uma manutenção, e, o equilíbrio no balanço de riscos é o principal deles.” O equilíbrio dos riscos, uma novidade desta reunião, é uma indicação do Copom de que as possibilidades de alta e de queda da inflação estão, agora, empatadas. Até aqui esse balanço vianha sendo considerado “assimétrico”, com uma vitória para as pressões altistas.
“Por isso, mantemos a nossa expectativa de manutenção dos juros em 14,75% na reunião do Copom de junho, nível em que, por enquanto, deve ser manter até o final do ano”, conclui a G5.