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A internet descobriu a fórmula das tarifas de Trump, e os economistas estão chocados

Para especialistas, alíquotas que os EUA dizem que os outros países cobram podem ter sido inventadas, e seriam baseadas no tamanho do déficit comercial

Por Juliana Elias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 abr 2025, 16h20 - Publicado em 3 abr 2025, 17h47

Havia ado apenas poucas horas desde o anúncio dos aumentos universais de tarifas feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no fim da tarde desta quarta-feira, 2, e os grupos de WhatsApp de economistas no Brasil e, certamente, em todo o mundo, já compartilhavam entre si as primeiras teorias de como teria sido calculada a lista aparentemente um tanto aleatória de taxas por país apresentada por Trump.

Elas começaram a brotar nas redes sociais pouco depois de as tabelas de tarifas virem a público — e espantaram muitos especialistas, já que não só a conta bate, como seria uma fórmula bastante simplória para ter sido o subsídio que definiu provavelmente um dos maiores pacotes de barreiras comerciais já feito, aplicado pela maior economia do mundo e que aumenta os tributos de dezenas de países de uma vez (veja como fazer a conta mais abaixo). Até o vencedor do Nobel de economia Paul Krugman entrou para o rol dos abismados: “O tamanho das tarifas não é a única coisa chocante sobre o anúncio. O que se descobriu depois a respeito de como a equipe de Trump chegou a essas tarifas é ainda pior”, escreveu Krugman em um artigo em sua página pessoal.

O mais grave é que a suposta fórmula indica que as tarifas médias que Trump e sua equipe divulgaram como sendo aquelas cobradas atualmente pelos países parceiros podem estar no mínimo distorcidas, se não foram simplesmente inventadas. Isso ajudaria a explicar a estranheza que os especialistas mais familiares com o mundo dos fluxos internacionais e cobranças comerciais tiveram ao ver a já icônica imagem de Trump exibindo seu enorme digital com a lista de tarifas por país no dia do anúncio.

“As tarifas que os países estrangeiros estão supostamente cobrando de nós são simplesmente números inventados”, disse o jornalista norte-americano especializado em finanças James Surowiecki, em uma publicação no X na noite da quarta-feira. “A Coreia do Sul, com quem temos um acordo comercial, não cobra 50% de tarifa sobre as exportações dos EUA, nem a União Europeia cobra 39%”, continuou, mencionando os números apresentados na tabelona de Trump.

Parta da lista de tarifas recíprocas a serem aplicadas pelos EUA e apresentadas por Trump em 2/04/2025
Parta da lista de tarifas recíprocas a serem aplicadas pelos EUA e apresentadas por Trump em 2/4/2025 (US/Reprodução)

O que o governo dos EUA disse

De acordo com o governo norte-americano, as novas tarifas que aplicará seguem o princípio da reciprocidade: ou seja, os Estados Unidos am a cobrar, agora, um imposto proporcional ao que o parceiro cobra deles. A nova tarifa para qualquer produto de fora entrar nos Estados Unidos a a ser metade do que o seu país de origem cobra dos EUA, limitado a um piso de 10%. O argumento do presidente é que, com uma tarifa média da ordem de 2% sobre tudo o que importa, os EUA estão cobrando bem menos do que o resto do mundo em suas transações internacionais.

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A União Europeia, por exemplo, que, de acordo com os números de Trump, aplica uma tarifa média de 39% sobre o que importa dos EUA, ará a pagar a metade disso para exportar para os EUA — 20%, na conta arredondada. O governo norte-americano, entretanto, não havia apresentado como chegou a esses 39% ou a todas as outras alíquotas que afirma pagar para o restante do mundo. Trump apenas disse que os números refletem “as tarifas cobradas sobre os Estados Unidos, incluindo manipulação cambial e barreiras comerciais”.

Qual parece ser a conta real

Surowiecki foi um dos primeiros, ainda na noite de quarta, a chegar a um algoritmo que levaria a esses números a que o governo chegou, e que logo começou a correr pela internet. E o surpreendente é que a fórmula em nada tem a ver com a carga tributária desses países sobre as importações, mas com o déficit comercial que os Estados Unidos têm com eles, ou seja, em quanto suas importações extrapolam as exportações em cada destino.

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A conta dos EUA para chegar ao que foi apresentado como a tarifa média aplicada por cada país seria:

  • Saldo comercial (exportações – importações) / importações

Os valores dizem respeito às exportações e importações do ponto de vista dos Estados Unidos. Na prática, essa conta dá a proporção do déficit dos EUA com o país em relação a quanto importa deles. Caso o saldo com o país seja positivo para os Estados Unidos, aplica-se apenas a tarifa mínima, de 10%.

No mencionado caso da União Europeia, por exemplo, conforme calculado por uma revista:

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  • Déficit comercial dos EUA com a União Europeia: US$ 235,6 bilhões em 2024
  • Importações da União Europeia para os EUA: US$ 605,8 bilhões
  • Tarifa aplicada pela UE sobre os EUA, de acordo com Trump: 235,6 / 605,8 = 38,9, ou 39% (arredondado)
  • Tarifa a ser aplicada pelos EUA sobre a União Europeia: 39 / 2 = 19,5, ou 20% (arredondado)

A fórmula foi replicada e testada por economistas e especialistas de todo o mundo e o resultado bate para todos os países. “Batemos a conta e é exatamente isso”, disse a VEJA o economista Livio Ribeiro, sócio da consultoria econômica BRCG e pesquisador especializado em comércio internacional no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “É uma conta simples, sem uma avaliação profunda de nada.”

De olho no déficit, não no imposto

A suposta fórmula mostra que, embora Trump e sua equipe tenham desde o início destacado que o norte do pacote de “tarifas recíprocas”, como indica o próprio nome, seja o tamanho da tarifa aplicada por cada país parceiro sobre os EUA, o que realmente definiu a alíquota final a ser cobrada de cada nação foi o tamanho do déficit que os Estados Unidos têm em seu comércio com elas: e, naturalmente, quanto maior esse déficit, maior a tarifa.

É o que explica o Brasil, por exemplo, ter ficado no grupo dos que receberam a menor cobrança, o piso de 10%, enquanto minúsculas nações paupérrimas do Sudeste Asiático, como Camboja ou Vietnã, que se transformaram em verdadeiras extensões do parque industrial chinês, foram agraciadas com taxas superiores a 40%. A balança comercial do Brasil com os Estados Unidos é historicamente positiva para eles — quer dizer, nós já importamos mais do que exportamos para eles —, e atualmente está praticamente zerada, ou seja, importações e exportações estão equilibradas.

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