Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

Documentário ilumina carreira de quarteto fantástico de supermodelos 465526

Nos anos 1980 e 1990, elas inventaram um novo mundo mais diverso e menos preconceituoso 2rd49

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h58 - Publicado em 16 set 2023, 08h00

Foi outro dia mesmo, na virada dos anos 1980 e 1990 do século ado, mas parece ter acontecido na pré-­história, antes de a civilização debruçar-se em telas de smartphones. O documentário As Supermodelos, dividido em quatro capítulos, com estreia prevista para 20 de setembro no Apple TV+, eia ao redor das fulgurantes carreiras de Linda Evangelista, Christy Turlington, Naomi Campbell e Cindy Crawford, o quarteto fantástico das arelas. Um modo de acompanhá-lo é pela régua tradicional, o da natural agem dos anos, implacável, insidioso, porque o avançar da idade é tão certo quanto o nascer do sol amanhã cedo, e todo mundo envelhece, mesmo elas, acredite.

Mas há uma outra maneira de medir a relevância da produção do streaming: ela revela — ao cotejar os dois momentos, o de agora e o de antes — as fenomenais mudanças de comportamento pelas quais o mundo atravessou nas últimas décadas, a caminho do respeito à diversidade. Não por acaso, a capa da revista Vogue de setembro, tanto na edição americana quanto na britânica, foi severamente criticada por ter aplicado camadas de Photoshop nas quatro mulheres. Segundo uma porta-voz da publicação, houve apenas “retoques mínimos” nas fotografias. Contudo, na era das redes sociais, em que o limite entre o virtual e o real é tão tênue, banhado de notícias falsas, a definição de “mínimo” é relativa. Era preciso voltar o tempo artificialmente para Linda (58 anos), Cindy (57), Naomi (53) e Christy (54)? Lá atrás, sim, era a regra do jogo. Hoje, não, porque o etarismo deve ser abandonado, por inaceitável. Trata-se, enfim, quase de uma viagem antropológica. Ou, na trilha do genial aforismo do poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989), “haja hoje para tanto ontem”.

É fascinante, a partir de um olhar retroativo, acompanhar o crescimento das quatro mulheres — e como elas ajudaram a derrotar as ideias preconcebidas, como a de que deveriam ser meros cabides, e não seres humanos. A turma mostrou que havia uma outra estrada que os humores da sociedade começavam a pavimentar. “As supermodelos mostraram para a indústria que não bastava ser linda”, diz Anderson Baumgartner, fundador da agência Way, que descobriu Alessandra Ambrosio e Caroline Trentini. “Precisavam saber falar em público, com inteligência e algo a dizer.” Soa óbvio, mas não. Foi um grande o para a humanidade, e que mudanças provocou. “Não éramos os Beatles”, diz Linda Evangelista, com boa dose de falsa modéstia. Onipresentes — e recorde-­se o videoclipe de Freedom! ‘90, de George Michael, estrelado pelas quatro — para ter ideia do barulho.

MATURIDADE - Hoje: o olhar retroativo de quem veio antes de tudo
MATURIDADE - Hoje: o olhar retroativo de quem veio antes de tudo (Misan Harriman/.)

Havia, especialmente no jeito de corpo de Naomi, ideias transformadoras. Ela foi a primeira modelo negra a ter algum destaque e a primeiríssima a protestar contra o racismo. “Fazia todos os desfiles, mas, quando vinham as propagandas, não era incluída”, lembra. “Nós ajudamos a quebrar barreiras”, completa Linda. Não há dúvida desse poder, mas é engano imaginar que a bandeira desfraldada pelas quatro tenha oxigenado tudo e todos de modo definitivo. A própria Linda, pressionada pelo padrão imposto pela indústria de beleza — alta, magra, de olhos claros, lábios carnudos e curvas perfeitas —, se submeteu há sete anos a um procedimento estético que fracassou, a ponto de deixar seu rosto deformado, obrigando seu afastamento das lentes dos fotógrafos. Ela não precisaria ter feito a cirurgia, mas seguiu o sopro ao redor, e pronto. “Há muito ainda a melhorar do ponto de vista das atividades profissionais de mulheres bonitas, mas há evidente caminho positivo”, diz Baumgartner. É o que salta dos agradáveis, ainda que um tanto nostálgicos e melancólicos, minutos de As Supermodelos.

Continua após a publicidade

Talvez caiba, adas as décadas, relembrar a frase mítica de Linda que lá atrás soou irônica e que agora pode ser entendida como manifesto inaugural das ondas de empoderamento feminino que se sucederiam: “Não saio da cama por menos de 10 000 dólares”, disse no início dos anos 1990. E então começou a sair por muito mais, ao abrir as portas para modelos plus size, transgênero, negras, mais velhas etc., como deve ser. Ou, como gritou George Michael no clipe inesquecível e viciante, com toda a exclamação possível: “Liberdade! Liberdade!”.

Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859

Publicidade

Matéria exclusiva para s. Faça seu

Este usuário não possui direito de o neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo 4b3v3b

o ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo 1f5w5z

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*o ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.