Uma carta para todas as mães que às vezes se sentem um fracasso 3o4k6t
Com a chegada do Dia das Mães, uma reflexão honesta sobre os dilemas da maternidade e seus impactos na saúde mental 23255j

Semana ada, antes mesmo de começarem as propagandas com flores e fotos felizes, eu já estava com um nó no peito.
Sabe aquela sensação de que você deveria fazer mais? Estar mais presente? Amar mais?
Pois é. Eu também.
E por mais que eu tenha estudado anos sobre saúde mental, e ado os últimos 20 como professora em Harvard, tem dias em que a minha mente grita: “Você está falhando como mãe.”
Talvez você conheça essa voz. Aquela que aparece quando você não consegue estar em todos os lugares. Quando perde a paciência. Quando não dá conta.
Aquela voz que sussurra: “você não é suficiente.”
Se você já sentiu isso, hoje, quero falar especialmente com você.
Você é uma péssima mãe?
Outro dia, atendi uma paciente que parecia carregar o mundo nas costas. Ela falava comigo tentando sorrir, mas as mãos tremiam em volta da xícara de café.
— Eu sou uma péssima mãe — ela disse, com os olhos baixos.
Começou a listar tudo que fazia: trabalho, cupcakes à noite, consultas médicas, jogos de futebol. Ela fazia tudo. Tudo.
Mas, ainda assim, sentia que não era o suficiente.
Perguntei pra ela o que era ser uma boa mãe. E a resposta veio rápida, como se fosse uma lista de afazeres memorizada há anos:
— É estar sempre presente. Sempre calma. Sempre produtiva. Nunca cansada. Nunca irritada. Nunca dizer não.
Olhei pra ela e disse, com toda a honestidade do mundo:
— Bom… por essa definição… eu sou uma mãe horrível.
Ela riu. Eu ri também. Mas era verdade.
Porque se a régua é essa — perfeição, presença constante, paciência infinita — então estamos todas reprovadas.
E quer saber? Ainda assim, somos boas mães. Porque o que está errado é a régua, não a gente.
As regras invisíveis da maternidade 6b1j43
Lembro de uma vez em que minha mãe me ligou e perguntou:
— Onde está o Diego?
Respondi que estava com o pai no jogo de futebol.
Ela retrucou, com aquele tom cheio de certezas:
— Mas uma boa mãe leva seu filho aos jogos. Ele vai achar que você não se importa.
Aquilo me atravessou por alguns instantes e a velha voz voltou: “você não é suficiente.”
Mas naquele dia, consegui pausar. Respirei fundo e disse:
— Eu sou uma boa mãe. Só não sou a mãe que vai ao futebol, e tudo bem. O pai dele adora. Eu estou presente de outras formas.
Viver com ousadia, às vezes, é sustentar as próprias escolhas diante do olhar julgador de quem a gente ama, mesmo quando isso desafia tudo o que nos ensinaram sobre o que é “certo”.
E para isso, não basta apenas saber o que é valioso para você. É preciso definir o que realmente importa. Porque, no fim das contas, a ousadia começa quando você escolhe viver guiado pelos seus valores, não pelos medos dos outros.
Regras invisíveis 1o7158
Regras que não foram criadas por você, mas que você tenta seguir como se sua vida dependesse disso:
- Se você descansa, é preguiçosa.
- Se chora, é fraca.
- Se diz não, é egoísta.
- Se não dá conta de tudo, está falhando.
Essas ideias não vêm escritas. Mas estão nas entrelinhas do que ouvimos desde sempre.
São os comentários, os julgamentos, as comparações. E, aos poucos, viram parte da nossa identidade.
Mas eu quero te lembrar de algo: essas regras são falsas. E são exaustivas.
O que adoece não é o que você faz. É o que você acredita que precisa fazer pra se sentir suficiente.
E se você quebrasse, hoje, só uma dessas regras?
Talvez você esteja se perguntando: se eu deixar de seguir essas regras, quem eu vou ser?
Você vai ser você: inteiro, imperfeito e digno de amor. Exatamente como é.
Porque o amor verdadeiro — dos outros e, principalmente, o seu por si mesmo — não depende de desempenho. Depende de presença.
Hoje, escolha quebrar uma regra que não é sua. Pode ser pequena. Pode ser silenciosa.
Talvez seja dizer “não” sem culpa. Descansar sem justificativa. Pedir ajuda sem se sentir fraco.
Você não precisa estar em todos os lugares. Não precisa dar conta de tudo.
Você só precisa estar com você, de verdade.
E isso, acredite, já é um ato de ousadia.