O cerco sobre Haddad 38t1h
Críticas de Rui Costa e Alexandre Silveira aumentam pressão sobre o ministro da Fazenda 2t486n

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está sendo rifado abertamente pelos seus colegas. No domingo 16, em reunião convocada pelo presidente Lula da Silva na Granja do Torto para discutir a crise de popularidade do governo, pelo menos dois ministros – Rui Costa e Alexandre Silveira – centraram seus ataques em Haddad, que estava em missão oficial na Arábia Saudita. Tanto Rui Costa quanto Silveira reforçaram a Lula que as duas medidas que mais desgastaram o governo partiram de ações do Ministério da Fazenda, a taxação das importações chinesas e o boato da taxação do Pix. Na sexta-feira 21, a confusão pela suspensão do crédito da safra por falta de votação do Orçamento também caiu na conta de Haddad.
Além de Lula, Costa e Silveira, participaram da reunião no Torto os ministros Sidônio Palmeira (Comunicação), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Camilo Santana (Educação), a presidente do PT e futura ministra, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo no Senado, Jacques Wagner. Na terça-feira 18, as repórteres Andréia Sadi e Julia Duailibi, da Globonews, revelaram bastidores da reunião.
Marcada dois dias depois de o Datafolha ter revelado o pior índice de ótimo/bom de Lula em seus três mandatos, a reunião começou com uma apresentação de Sidônio. Ele mostrou pesquisas qualitativas indicando quatro causas para a queda: a alta dos preços dos alimentos, a crise do Pix e das compras chinesas e a falta de marcas do governo.
As pesquisas mostram que desde dezembro vem crescendo a desaprovação ao governo no núcleo duro dos eleitores lulistas: os mais pobres, as mulheres, os eleitores do Nordeste, os católicos e os que se declaram pretos.
O diagnóstico de Sidônio foi otimista e concluía a que popularidade retomará com as mudanças que ele está promovendo na comunicação, mas Rui Costa e Alexandre Silveira aproveitaram a oportunidade para atacar Haddad. Jacques Wagner foi o único a defender o ministro da Fazenda.
Em certo momento, Silveira chegou a sugerir a substituição de Haddad pelo presidente da Fiesp, Josué Gomes. O diagnóstico de Silveira é que a insistência de Haddad em cumprir o arcabouço fiscal pode levar o governo à derrota em 2026. Lula não deu sinais de estar convencido disso.
Não há indicações de que Lula pretenda substituir Haddad, nem de que o ministro pretenda pedir para sair, mas o fato de o presidente não ter reagido contra o ataque é um sinal grave. Desde o anúncio do pacote fiscal, em novembro, na dúvida Lula sempre tem pendido para Rui Costa e seu protegido Sidônio Palmeira.
A provável nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria Geral e a substituição de Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais apontam para que num futuro próximo todos os ministros do Palácio do Planalto, aqueles que naturalmente têm mais o ao presidente, são resistentes a Haddad.
É um cenário pior para Haddad do que outros embates internos, como quando no início do governo Gleisi Hoffmann chamou a política fiscal de “austericídio” ou quando Lula descartou o déficit zero. Naqueles momentos, Haddad tinha apoio do mercado financeiro e do establishment empresarial, o que o tornava essencial para o governo. Essa relação se perdeu depois do desapontamento com o pacote fiscal de novembro.
Na quinta-feira 20, Rui Costa explicitou em entrevista ao portal Metrópoles a tese de que a aprovação do governo caiu por responsabilidade do Ministério da Fazenda:
Pergunta – Fala-se muito que algumas medidas do Ministério da Fazenda e, também da comunicação, algumas faltas de medidas da comunicação contribuem aí para o mau desempenho do governo nas pesquisas. O senhor concorda com isso?
Rui Costa – “Não se trata de ‘muita gente fala’. Isso é pesquisa. A imprensa divulgou. Estão lá os dados.”
Pergunta – Quais foram os episódios? Acho que é aquela da taxa da blusa do Pix?
RC- “As pesquisas públicas que todos conhecem, que a imprensa divulgou, sinalizam a questão da taxa daqueles aplicativos das plataformas de venda (as compras chinesas). Isso está muito latente nas pesquisas que foram divulgadas. A questão da fake news do Pix afetou fortemente. Criou um ambiente de desconfiança. (…) Nós fomos vítimas de muitas fake news. E a mais forte, vamos dizer assim, foi essa do Pix. As pesquisas relatam que isso impactou a confiança no governo.”
Para comparar: na quarta-feira 19, Lula recebeu o empresário Walfrido Mares Guia, o senador Jaques Wagner e o ministro da Defesa, José Múcio. Os três foram chefes da Secretaria de Relações Institucionais nos governos Lula 1 e 2 e têm relação de amizade com o presidente. No diagnóstico do trio, o problema do governo não é Haddad, mas Rui Costa. A reação do presidente foi de uma defesa vigorosa do seu chefe da Casa Civil.
O ataque a Haddad coincide com a reforma ministerial e a preparação da campanha da reeleição. A pesquisa encomendada pela Secom mostrou que a maior parte da população não consegue citar uma única medida do governo e que apenas as marcas antigas, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, são conhecidas.
Na sua apresentação, Sidônio defendeu que a marca do governo Lula 3 deveria sair da Saúde, a área onde seria mais fácil se comparar positivamente com o desastre da gestão Bolsonaro na pandemia de covid. Sidônio enxerga potencial eleitoral no recém-criado programa que oferece o mais rápido a médicos especialistas no Sistema Único de Saúde, reduzindo filas para cirurgias e tratamentos. O programa tem o nome burocrático de Programa Mais o a Especialistas (PMAE) e a falta de publicidade em torno dele decretou na reunião de domingo a iminente demissão da atual ministra Nísia Trindade. Rui Costa quer indicar para o cargo o ex-ministro Arthur Chioro, e assim impedir que ele seja ocupado por Alexandre Padilha, o ministro mais próximo de Haddad.
A guerrilha contra Haddad vai continuar. Na sexta-feira, a assessoria do Palácio do Planalto responsabilizou o Ministério da Fazenda pelo conflito de informações na suspensão de novas contratações de financiamentos do Plano Safra. Como o Orçamento de 2025 ainda não foi votado pelo Congresso, a Secretaria do Tesouro Nacional suspendeu os financiamentos para não cometer uma pedalada fiscal. Foi uma manobra semelhante que rendeu o pretexto para o impeachment de Dilma Rousseff.
No entendimento dos assessores presidenciais, o Ministério da Fazenda tomou a decisão de forma burocrática, comunicando por ofício a suspensão aos bancos que operam as linhas de crédito. Seria a mesma falta de sensibilidade política das cobranças das compras chinesas e da ampliação da fiscalização do Pix. Com o episódio ganhando vulto, Haddad anunciou na sexta-feira, primeiro, uma consulta ao Tribunal de Contas da União e, depois de uma conversa com Lula, a edição de uma medida provisória prevendo 4 bilhões de reais em crédito extraordinário para o Plano Safra deste ano, mas dentro do limite de gastos do arcabouço fiscal.
Haddad está no pior momento do pior emprego do mundo.