Arnold Schwarzenegger a VEJA: ‘Só vou parar quando morrer’ 5s3md
Ao exibir uma deliciosa capacidade de não se levar a sério, ator cativa na série Fubar, enquanto vê os filhos seguirem seus os 1t116d

Numa missão secreta, os agentes da CIA Luke Brunner (Arnold Schwarzenegger) e Emma (Monica Barbaro), que vem a ser sua filha, pegam “emprestado” com o cineasta James Cameron um submarino capaz de atingir grandes profundezas. O objetivo é evitar uma explosão em um cabo submerso na costa do Alasca que poderia desencadear uma hecatombe nuclear. No fundo do mar, um vazamento de gás dentro do submarino faz os personagens delirarem. Emma a a ver seu pai como um brinquedo de sua infância e Luke vê a filha como uma menininha indefesa. No delírio, os dois agentes, que estão há meses brigados, finalmente se entendem e, claro, descobrem uma maneira rocambolesca de sair da situação — e salvar o país. A cena é um dos inúmeros momentos de humor nonsense que permeiam a segunda temporada da série Fubar, já disponível na Netflix.
O novo trabalho de Schwarzenegger é uma comédia frugal, mas que diz algo significativo sobre o astro: aos 77 anos, ele deixou de lado o perfil implacável que o consagrou nos cinemas para assumir de vez uma deliciosa capacidade de rir de si mesmo. Lá pelo final dos anos 1980 e início dos anos 90, o ator já exibia sua veia cômica em sucessos ao lado de Danny DeVito. Agora, na maturidade, aquele traquejo meio desengonçado para o humor se revela um bem valioso. No enredo de Fubar, Brunner finalmente vai se aposentar, mas, antes, quer se certificar de que conseguiu ensinar tudo o que sabe para a filha, para lhe ar o bastão. No meio do caminho, Greta Nelso (Carrie-Anne Moss), ex-agente da Stasi (a extinta polícia secreta da Alemanha Oriental) e antiga affair de Brunner, ressurge como uma supervilã capaz de destruir o planeta — e o casamento do ex. “Estou muito feliz por fazer o que gosto, que é entreter as pessoas”, disse o astro em entrevista a VEJA (leia mais abaixo).
Além de estar à vontade no papel, Schwarzenegger não hesita em satirizar seu próprio ado. A série faz graça com bordões de seus filmes de sucesso: a certa altura, o agente solta um “eu voltarei”, frase do ciborgue assassino de O Exterminador do Futuro (1984). Em outro momento, seu personagem diz ser fã de seu velho parceiro Danny DeVito e debocha de seu tamanho: “Tão pequenininho que caberia dentro do meu bolso”. É impossível não notar também a ironia do enredo — que, de certa forma, reflete a atual vida do astro austríaco fora das telas. Desde que deixou de ser governador da Califórnia, em 2011, o ex-fisiculturista reviu a própria história e, assim como seu personagem, tem refletido sobre o legado que deixará para os filhos. Em 2023, lançou o documentário Arnold, também na Netflix, em que fala abertamente sobre o relacionamento com os cinco filhos. Quatro deles, frutos do casamento com a ex-esposa Maria Shriver, de quem se separou após ela descobrir que o ator tinha outro filho fora do casamento, Joseph Baena, de 27 anos — que nasceu cinco dias após o caçula da família.

Curiosamente, Baena é quem mais se assemelha fisicamente ao pai e, apoiado por ele, segue os mesmos os no fisiculturismo. Após ser assumido oficialmente por Schwarzenegger, em 2011, Joseph ou a participar de concursos e a se envolver com os negócios do pai nessa área. Nas artes, quem continua sua rota é Patrick, 31 anos. Ele ganhou destaque recentemente ao interpretar o ricaço mimado Saxon Ratliff na terceira temporada da série The White Lotus, com direito a uma ruidosa cena de nu frontal. “Eu fiz o mesmo em O Exterminador do Futuro, então não posso reclamar”, disse Schwarzenegger ao filho em um bate-papo transmitido on-line.
Ao rever a história da família no doc sobre sua vida, Arnold exorcizou ainda o tóxico ado de seu pai, Gustav, que foi um soldado nazista durante a Segunda Guerra. Na política, é aquele tipo de conservador de que se sente saudade em tempos de polarização extrema: é filiado ao Partido Republicano, o mesmo do presidente Donald Trump, mas sempre se apresentou como um político moderado e sensato. Na Califórnia, apoiou políticas de combate ao aquecimento global e também para proteger minorias. Apesar de não ter planos de voltar a se candidatar, Arnold posta constantemente vídeos em suas redes dando opiniões sobre os rumos da política nacional — e não se furta em criticar Trump. Agora, ao apostar na escapista Fubar, o brucutu não só reforça seu lado sensível, como dá vazão a um traço invejável: a capacidade de não se levar a sério. O exterminador nunca foi tão livre, leve e solto.
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Arnold Schwarzenegger conta a VEJA que, aos 77 anos, não tem planos de se aposentar.
Na série, seu personagem a o bastão para a filha. Na vida real, sente que o mesmo está ocorrendo com seus filhos? Na série, meu personagem quer se aposentar. Eu nunca vou me aposentar porque não saberia o que fazer depois. A atuação é um hobby. Gosto também de promover os campeonatos de fisiculturismo ao redor do mundo. Quando estiver a sete palmos do chão, aí eu posso me aposentar.
Como é fazer comédia sendo um ator de filmes de ação? O segredo da comédia não é a piada e, sim, as circunstâncias que fazem as pessoas rir, como no momento em que eu e Carrie-Anne dançamos com muitas armas. É perigoso, romântico e engraçado.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948