Carros e pneus: a curiosa história da origem do Guia Michelin 3p3e2y
Criação dos irmãos Michelin surgiu para promover a compra de automóveis e pneus, mas tornou-se referência em recomendações de alta gastronomia j1jd

Como surgiu o Guia Michelin, principal referência em recomendações de restaurantes, que neste ano completa 125 anos?
Em 1900, os carros ainda não eram populares. Eram caros, desnecessários e usados apenas por ricos aventureiros. A infraestrutura no início do século era precária, com poucas estradas adaptadas para os novos veículos, e muitos questionavam sua utilidade, já que cavalos e carroças eram mais eficientes e íveis.
Naquela época, os irmãos Édouard e André Michelin tinham uma empresa de borracha, fundada em 1889, que começou a produzir pneus pneumáticos a partir da experiência com ciclistas. Presos ao aro e inflados com ar comprimido, ajudaram competidores da época a vencer provas importantes de ciclismo, como a Paris-Brest-Paris. Esses pneus foram adaptados aos então ainda novos automóveis, e representaram vitórias importantes em corridas da época.
Para incentivar a compra de automóveis e, portanto, a de pneus em larga escala, os irmãos Michelin tiveram uma ideia genial. É o que conta o jornalista Bryan Appleyard no livro “The Car – The Rise and Fall of the Machine that Made the Modern World” (“O Carro – Ascensão e Queda da Máquina que Fez o Mundo Moderno”, inédito no Brasil). “A solução bastante surpreendente dos irmãos foi o Guia Vermelho, que tinha como objetivo oferecer informações sobre hoteis, restaurantes e, principalmente, farmácias que vendiam gasolina, já que não havia postos de gasolina.”
Guias de viagem não eram novidade, mas antes eram baseados nos horários de trens. O primeiro Guia Vermelho tinha 399 páginas e uma tiragem inicial de 35 mil exemplares – um número absurdamente ambicioso, considerando que naquela época havia apenas três mil automóveis circulando na França.
Não dá para afirmar com certeza qual a participação do Guia Michelin no aumento da frota de carros da França, mas algo aconteceu: em 1903, o país tinha o maior mercado de automóveis do mundo, com 30 mil unidades. Para ter ideia, os Estados Unidos produziram apenas 11 mil no mesmo ano.
Afinal, o guia pressupunha um carro. As pessoas dirigiam, é claro, para comer bem. Embora fosse voltado para o público de maior poder aquisitivo, algo que se manteve ao longo do tempo, graças a seu sistema de avaliação de restaurantes baseada em estrelas (sendo três a nota máxima), o guia ajudou a popularizar o carro como um conceito, uma ideia. Uma aspiração.
Hoje, o Guia tem edições em várias regiões do mundo. São 28, incluindo a edição brasileira, com recomendações de São Paulo e Rio de Janeiro.