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O capitalismo que desejamos

É fundamental buscar uma melhor distribuição de renda

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 12h14 - Publicado em 17 abr 2022, 08h00

Parafraseando Churchill sobre a democracia, o capitalismo é, de longe, o pior sistema econômico a não ser todos os outros. Mesmo sendo o melhor dos regimes econômicos, seus defeitos comprometem seus avanços e o desenvolvimento econômico e social do planeta.

Talvez o mais grave dos defeitos do capitalismo seja a existência de comportamentos cretinos justificados pelo lucro, pela eficiência e pela racionalidade econômica. Por exemplo, compram-­se diamantes extraídos por trabalhadores escravizados e madeira derrubada ilegalmente. Ou ainda petróleo de países com regimes antidemocráticos. E mais além, celulares de último modelo feitos em fábricas com condições insalubres de trabalho.

O cretinismo capitalista é o mesmo que, em meio à invasão da Ucrânia, buscou comprar petróleo venezuelano — que está mais para petróleo iraniano — ou cogitou até mesmo comprar petróleo iraniano diretamente do regime dos aiatolás. E relativiza a compra de petróleo e gás russos em meio à invasão da Ucrânia. O cretinismo capitalista também é aquele que fecha os olhos e aceita que as condições de trabalho dos imigrantes sejam, no mínimo, duvidosas, e os direitos das mulheres, praticamente inexistentes. Para não falar da perseguição à comunidade LGBTQIA+ em países, por exemplo, que vão promover a Copa do Mundo.

“Sem o predomínio de valores e princípios podemos escorregar para a barbárie e retroceder”

O meu texto não é um libelo anticapitalista. Pelo contrário, o mundo precisa cada vez mais e mais do capitalismo funcionando de forma adequada. A partir de princípios que respeitem a cidadania, os direitos humanos, a diversidade e o meio ambiente. Que promova a igualdade de gênero e a educação plural. Que busque uma melhor distribuição de renda e o uso racional do meio ambiente. Aliás, tudo o que o socialismo nunca promoveu em seus delírios messiânicos.

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O mundo capitalista hoje está dividido. Existem práticas anticretinismo — como o compliance, a governança, a transparência e a sustentabilidade — que deveriam prevalecer cada vez mais e mais. Porém o lado bom do capitalismo ainda perde na hora do vamos ver. Mas a guerra da Ucrânia deve impor uma reflexão séria sobre os limites éticos do capitalismo e deverá trazer algumas mudanças de comportamentos. Sobretudo em relação aos regimes que não protegem os avanços civilizatórios.

A Alemanha acreditou que, sendo uma boa cliente da Rússia, ia trazê-­la para os valores civilizatórios. Ledo engano. Não existem soluções técnicas para os problemas da humanidade, como bem entendeu Shakespeare. Sem o predomínio de valores e princípios podemos escorregar para a barbárie e retroceder na história. Não há garantia de que, sem empenho e proteção aos nossos valores, manteremos os avanços civilizatórios.

O prosseguimento da guerra da Ucrânia colocará o capitalismo mundial em um dilema. O mundo livre aceitará a Rússia como fornecedor, mesmo considerando ser um país governando por um regime cruel, ditatorial e que não respeita as regras nem os direitos humanos? A indagação poderá chegar a outros países. Com a palavra, os cretinos fundamentais. Aqueles definidos por Nelson Rodrigues como capazes de deturpar o que é óbvio.

Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785

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