Quem é o bispo católico que virou pivô da crise entre Lula e Ortega 2j2971
Tensões entre Brasil e Nicarágua escalaram desde que petista solicitou, a pedido do Papa Francisco, a libertação do religioso perseguido pela ditadura 2sax

Nesta quinta-feira, 8, as tensões entre Brasil e Nicarágua voltaram a escalar com a decisão do governo brasileiro de expulsar do país a embaixadora nicaraguense, Fulvia Patricia Castro Matu. A medida foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e marca um novo episódio na crise diplomática com Daniel Ortega, presidente do país caribenho e aliado de longa data do petista.
A deterioração das relações entre Lula e Ortega, notórios representantes da esquerda latino-americana, tem um personagem como pivô: o bispo católico dom Rolando José Álvarez, responsável pela diocese de Matagalpa, na Nicarágua, que tornou-se uma espécie de símbolo do enfrentamento ao autoritarismo do governo.
Resistência católica 2z6bb
Em 2018, a Nicarágua foi palco de amplas manifestações populares contra a ditadura da Frente Sandinista, partido de Daniel Ortega, que governa o país ininterruptamente desde 2007. Na época, setores da Igreja Católica ganharam repercussão pelo apoio à população e pelas críticas abertas de Rolando Álvarez e dezenas de outros sacerdotes contra o regime.
A repressão aos protestos foi sangrenta — o governo Ortega deu início a uma perseguição ferrenha a opositores que resultou em pelo menos 355 mortes, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), e milhares de prisões de manifestantes e sacerdotes católicos. Em 2022, Álvarez foi preso, acusado de conspiração contra o Estado e sentenciado a 26 anos de encarceramento.
Pedido do papa 25l4i
Foi neste contexto que Lula decidiu interceder e, em 2023, apelar ao governo da Nicarágua pela libertação do bispo. Em julho do ano ado, o presidente disse a jornalistas que agiu a pedido do Papa Francisco, que fez a solicitação pessoalmente ao petista, e que Ortega não retornou suas ligações. “Ortega não atendeu o telefone e não quis falar comigo, então nunca mais falei com ele”, declarou.
No último mês de janeiro, após cerca de quinhentos dias na cadeia, Álvarez firmou um acordo com o regime de Ortega para ser libertado sob a condição de deixar a Nicarágua. Expulso do país natal, o bispo viajou para o Vaticano, onde se encontra exilado desde então.
Escalada de tensões 5s41l
Devido ao azedamento das relações entre Brasil e Nicarágua, o presidente Lula decidiu não participar, no último 19 de julho, das celebrações de 45 anos da Revolução Sandinista, evento que levou Ortega ao poder pela primeira vez, em 1979 após a derrubada do ditador Anastasio Somoza. Os eventos ocorreram sem representantes brasileiros.
Após três semanas, a situação escalou nesta quinta-feira, 8, com a expulsão do embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno Souza da Costa, pelo regime de Ortega. Pelo princípio da reciprocidade, Lula decidiu expulsar a embaixadora nicaraguense Fulvia Patricia Castro Matu na tarde de hoje. Ambas as expulsões foram confirmadas pelo Itamaraty.