5 ótimas séries policiais para testar seus nervos 3m2r36
“Marcella”, “River” e “Line of Duty”, na Netflix, e “Bosch” e “Goliath”, na Amazon, combinam tramas excelentes e grandes protagonistas 502k6

“Marcella”: uma detetive à beira do descontrole
Onde: na Netflix
Anna Friel é uma atriz intensa e algo ardida, e portanto perfeita para encarnar Marcella, investigadora da polícia londrina que está num momento de tumulto grave: perdeu um bebê com meses de idade, está se separando do marido (um mau-caráter do qual, no entanto, ela não desapega) e em guerra com ele pelos corações e mentes dos dois filhos – e vem ainda experimentando “apagões” de consciência. Um verdadeiro trator, que a por cima de tudo quando pega um caso, Marcella deixou entretanto de ser confiável. Ela sabe disso mas, como está agarrada à tábua de salvação do trabalho, esconde esse fato de todos, poluindo suas investigações e sua conduta pessoal com erros desastrados de julgamento. Da primeira para a segunda temporada, aliás, a implosão da protagonista só se agrava. A questão é: o desgoverno de Marcella interfere com seus instintos ou os aguça? E seu desprezo pelos meios invalida ou não seus fins? Trabalhando ali, no fio da navalha, com as preconcepções do espectador sobre mulheres de nervos abalados, a série faz um belíssimo trabalho tanto no aspecto policial como no da discussão.

“Bosch”: um investigador muito calmo
Onde: na Amazon
Se o nome Titus Welliver não diz nada a você, basta olhar para a cara dele para lembrar que você já o viu em dezenas de filmes e séries. Eterno coadjuvante, Welliver faz bonito como protagonista no papel do detetive Hyeronimus “Harry” Bosch (alguém, no orfanato em que ele foi criado, achou graça em torná-lo homônimo do pintor apocalíptico dos séculos 15 e 16), um daqueles tipos consagrados da literatura noir ambientada em Los Angeles: cínico quanto às regras e desiludido com a natureza humana, mas dono ainda de um coração tenro e terno, que anseia por justiça para as vítimas da violência e da indiferença. Assim, embora esteja sob julgamento – e com boas chances de ser condenado – por ter matado um suposto serial killer, Bosch decide não se abalar e, pelo menos enquanto não lhe cassam o distintivo, prossegue investigando um caso que ocorreu três décadas antes mas só agora veio à luz, com a descoberta acidental da ossada de um menino de 13 anos. Sereno e comivo, mas inflexível quando acha que é o caso – e invariavelmente resistente a todo tipo de autoridade –, Bosch é um bom companheiro para o espectador: já vai pela quarta tremporada, e a quinta já tem estreia garantida em 2019.

“River”: um policial meio doido
Onde: na Netflix
Rodando por Londres, à noite, o detetive veterano John River e sua parceira, Jackie “Stevie” Stevenson, batem papo com aquela familiaridade das pessoas que se conhecem do direito e do avesso: River é travadão, Stevie tem uma personalidade borbulhante; ela o provoca, brinca com ele, canta I Love to Love, na versão de Tina Charles, junto com o rádio; ele finge que ela está torrando sua paciência, mas está adorando a brincadeira. E, então, eles veem à sua frente um Mondeo azul que suspeita-se estar envolvido no caso que eles estão investigando. A perseguição termina de maneira trágica, com o suspeito estatelado vários andares abaixo. Outras viaturas vão chegando, a confusão se instala – e percebe-se que… Não vou estragar a surpresa, embora ela seja central a esta minissérie em seis episódios. Digo apenas que John River, sueco de nascimento e radicado na Inglaterra desde os 14 anos, provavelmente tem uma forma leve de autismo. Seus colegas estão habituados a vê-lo falando sozinho (não é estritamente verdade), mas ainda assim se fascinam com os rompantes dele. As interpretações estupendas de Stellan Skarsgard e Nicola Walker são a âncora do argumento. Outras pessoas vão interferir nesse relacionamento: o detetive recém-chegado Ira (o excelente Adeel Akthar), a chefe da divisão de River (Leslie Manville), a psicóloga (Georgina Rich) com quem River tem de cumprir uma dúzia de sessões por ter presenciado um crime violento. Mas tudo, sempre, conduz River de volta a Stevie: ela, em si, é o mistério que ele tem de resolver.

“Goliath”: um advogado que atrai problemas
Onde: na Amazon
“Você bebe demais”, alguém diz a Billy McBride. “De maneira nenhuma. Bebo exatamente o necessário”, retruca ele, com aquela mistura de placidez e corrosão que ninguém leva ao ponto tão certo quanto Billy Bob Thornton. Assisto a qualquer coisa que Billy Bob faça: o sujeito é absolutamente fascinante. E esta é uma série sob medida para ele. No papel de Billy McBride, um advogado que um dia foi poderoso, mas perdeu a firma, o respeito, a dignidade e qualquer outra coisa que ainda lhe restasse para o ex-sócio (William Hurt, em um personagem tétrico da primeira temporada), Billy Bob faz aquilo que é a sua especialidade – obfusca os outros personagens e o espectador, confundindo suas expectativas enquanto persegue um caso bobo que caiu no seu colo e que, inesperadamente, pode ser a chance que ele não esperava ter de acertar as contas com as pessoas do seu ado. A segunda temporada entrou há pouco na Amazon, e nela, de novo, aquilo que começa simples vai se provando imensamente complicado: o álcool nem turva a inteligência de McBride, nem interfere com seu faro para achar problemas cabeludos. Billy e sua trupe de enjeitados – a parceira estridente e inexperiente (Nina Arianda, ótima), a secretária gordinha por quem ninguém dá nada, a assistente stripper – são, enfim, o Davi que a cada temporada tenta pegar a unha um Golias.

“Line of Duty”: os policiais que os outros policiais detestam
Onde: na Netflix
Esta estupenda série inglesa tem quatro temporadas, mas só a terceira e a quarta estão disponíveis na Netflix. Não tem problema. Como cada ano gira em torno de um caso diferente, dá para acompanhar muito bem. Na verdade, fica até melhor: você começa sem uma informação importante, e o mistério aumenta ao ponto de dar taquicardia. O excelente Martin Compston faz um jovem policial que foi transferido para a Corregedoria, a polícia da polícia, por ter se recusado a encobrir uma trapaça do seu superior. Sob a liderança do veterano Adrian Dunbar e na companhia da parceira júnior interpretada por Vicky McLure, ele se dedica a investigar casos de corrupção dentro da corporação. O mais interessante: numa polícia tão ferozmente regulamentada e vigiada como a inglesa, a corrupção por dinheiro ou ganho material é quase impossível. Mas Line of Duty lembra que o coração vive com fome; ele sempre encontra mil outros motivos para se corromper, degradar-se ou perder a bússola. Espere altíssimas doses de drama, atuações soberbas, uma visão duramente realista dos personagens – todos eles – e, na terceira temporada, uma participação ao mesmo tempo linda e terrível da grande Keeley Hawes (quem for procurar as duas primeiras temporadas por aí vai ganhar mais Keeley, e também uma tour-de-force de Thandie Newton).