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Em parceria com a Agência Espacial Brasileira, a Embrapa e uma dezena de instituições fazem pesquisa para permitir o cultivo de plantas nutritivas fora da Terra j6c5g

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 jan 2025, 15h32 - Publicado em 9 jan 2025, 08h00

A próxima década – em especial os próximos 6 anos – guardam uma grande expectativa: a de que, após cinco longas décadas, os seres humanos voltarão a colocar os pés na Lua. Estados Unidos e China fizeram a promessa, que traz uma cara renovada à corrida espacial. Dessa vez, contudo, há uma diferença. A mera chegada não será o suficiente. A ideia agora é se estabelecer por lá, em missões permanentes que, no futuro, autorizarão empreitadas para destinos ainda mais longínquos. É pouco provável que até lá tenhamos novos astronautas brasileiros, mas o nosso DNA certamente estará nas missões. 

O Brasil tem longa tradição no agro. A ciência desenvolvida por instituições como a Embrapa, por exemplo, já permitiram que plantas sazonais crescessem o ano inteiro, que cultivares sensíveis se adaptassem a climas extremos ou que amplas monoculturas se tornassem resistentes aos parasitas mais comuns. Agora um novo desafio: adaptar alimentos nutritivos e saborosos para crescer na Lua, um local seco, com atmosfera rarefeita e muito exposto à radiação. “Vai ser um trabalho longo, mas temos que começar por algum lugar”, disse Alessandra Pereira Fávero, coordenadora do grupo de pesquisa em Agricultura Espacial da Embrapa.

Em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), a empresa está liderando o grupo Space Farming Brasil, uma reunião de 14 instituições que buscam adaptar cultivares que possam crescer no e possam garantir a nutrição dos astronautas escolhidos para longas missões lunares. “Nós escolhemos começar com a batata doce e o grão de bico”, diz Fávero. “É uma nova versão da dobradinha conhecida dos brasileiros, o arroz e o feijão.”

De fato, os benefícios dessa dupla são promissores, mas, aqui, a batata doce faz o papel do arroz, rico em carboidratos, e o grão de bico faz as vezes do feijão, cheio de proteínas. Essa escolha, no entanto, não é baseada apenas nos macronutrientes. A raiz cheia de açucares é uma boa escolha porque, além dos carboidratos, suas folhas também podem ser consumidas e ela é abundante em antocianinas, um tipo de molécula que promove proteção contra radiação. Já o grão rico em proteínas, além de poder ser utilizados em diversas formas diferentes, para agradar a todos os paladares, também é fonte de triptofano, um aminoácido que serve como precursor de neurotransmissores e pode ajudar a melhorar o humor dos habitantes em solo lunar. 

Ta, mas se os alimentos já foram escolhidos, qual a dificuldade? Entre a teoria e a prática, existe um longo caminho a ser percorrido. Hoje, os especialistas sabem como cultivar essas plantas na Terra, com água e nutrientes, mas na Lua não será bem assim. Lá não há oxigênio, água corrente, nem solo nutritivo, então todo o processo deverá ser adaptado. “Provavelmente, precisaremos de estufas que permitam o cultivo hidropônico, em cavernas e túneis subterrâneos”, explica Fávero. 

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A ideia é essa: todo o processo será fabricado. As cavernas e túneis formados há milênios por rios de lava permitem uma proteção da radiação, mas será necessário prover água com nutrientes e luz artificial. 

Justamente por isso, esse grande grupo está trabalhando para possibilitar que isso aconteça. Enquanto alguns cientistas, como os liderados por Fávero, buscam melhorias genéticas e otimização de cultivo, que permitam o melhor crescimento possível com a maior quantidade de nutrientes, há quem pesquise maneiras de fazer da Lua um lugar mais fértil. Um grupo na Universidade de São Paulo, por exemplo, liderado por Douglas Galante e Fábio Rodrigues, pesquisa bactérias que possam transformar as rochas lunares. Hoje elas são grandes e tóxicas, mas é possível que esses microrganismos consigam retirar as toxinas e deixar os nutrientes que estão presos nas pedras mais disponíveis para serem absorvidos pelas plantas. 

E esse esforço não se encerra nas fronteiras nacionais. O Brasil é um dos signatários do Acordo Artemis, uma série de protocolos para garantir uma exploração espacial ética e justa. Essa aliança, no entanto, também abre espaço para parcerias com o Programa Artemis, da Nasa, que busca levar humanos de volta à Lua. Hoje, são diversos os países participantes e cada um deles desenvolve uma parte diferente das tecnologias necessárias para permitir essa exploração permanente do satélite natural da Terra. 

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Os trabalhos desse tipo são inúmeros. Uma pergunta, no entanto, sempre invade esse tipo de pesquisa: se temos pessoas ando fome na Terra, nas nossas vizinhanças, por que gastar energia pensando em uma civilização que ainda nem existe? é um questionamento válido, mas como tudo na ciência é importante notar que nenhum conhecimento é isolado. A transformação do solo lunar deve permitir o desenvolvimento de tecnologias que possam ser empregadas em locais arenosos ou desertificados, enquanto o melhoramento das plantas pode fazer com que elas também se tornem mais adaptadas aos climas extremos na Terra. “Essa é uma das principais preocupações que a gente tem”, afirma Fávero. “As tecnologias lunares podem ser utilizadas na Terra. A Nasa, por exemplo, já desenvolveu mais de duas mil tecnologias que hoje são empregadas no nosso dia a dia”. Que venham as próximas duas mil. 

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Série Brasil no Espaço: essa reportagem é a primeira de uma sequência de quatro matérias que buscam desmistificar a ideia de que o Brasil não faz ciência espacial. Hoje, o investimento nessa área de pesquisa é pequeno e o impacto internacional ainda não é tão amplo quanto o das grandes economias, mas consideramos importante mostrar que existem bons profissionais no Brasil e que, mesmo sem grandes apostas, há potencial para encontrar boas soluções e ganhar protagonismo nesse ambiente cada dia mais competitivo. 

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